sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Final

Lá se vai dezembro, lá se vai mais um ano.

Em 2007 eu passei o Natal na casa dos meus pais. "Abandonei" o marido e fui pra lá com o Gabriel na barriga. Nunca gostei muito dessa data, mas sempre fiz o possível pra reunir a família e ficar ao lado de quem eu gosto. É verdade que nem sempre é possível reunir todo mundo. Mas nessa vez eu tomei a decisão certa. Ninguém podia imaginar, mas esse foi o último Natal que passamos com minha mãe. E eu lembro de cada detalhe desse dia. Eu lembro do abraço que ela me deu quando revelamos o amigo secreto (ela me tirou!). Ganhei o DVD da primeira temporada do seriado Mothern.



Esse ano, o que ganhei foi saudade. Só saudade. Nossa despedida começou há mais ou menos 2 meses, quando descobrimos a metástase do cancer para o cérebro. Todos sabíamos, inclusive minha mãe, que o final estava próximo. Mas saber é diferente de ver. Conforme o tempo ia passando e a situação piorando, era como se eu fosse perdendo a consciencia junto com ela... eu via, mas não acreditava. Primeiro ela perdeu os movimentos do lado direito e depois parou de andar totalmente. Então ela me dizia que eu precisava cuidar da casa quando ela se fosse. Precisava cuidar do meu irmão, ajudar ele a comprar roupas novas (homens não são bons nisso) e não deixar ele se perder nos estudos. Dizia que eu podia ficar com algumas roupas dela - que ela gostaria disso - e que as outras era pra doar pra quem precisa. Eu ouvia cada palavra e não conseguia acreditar que logo ela não estaria mais ali. Nunca mais. Parecia que ela estava se preparando para uma viagem. Mas não uma viagem sem volta.

Quando ela parou de falar foi mais doloroso. Minha mãe era minha amiga e eu gostava muito de ouvir a opinião dela sobre tudo! Mesmo que fosse só pra discordar. E então de repente ela se calou. Ela continua ali presente, mas não se comunicava mais. De vez em quando fazia alguma gesto e sempre apertava forte a minha mão quando eu estava com ela. Ela me olhava nos olhos e eu via um pedido de socorro, um grito de angústia!!! Eu queria explodir.

E então a situação se agravou e ela precisou ser internada no hospital. Fui junto com ela, dentro da ambulância, disse pra ela que ia ficar junto até o final. E fiquei. Foi pouco mais de 1 semana. Ela já não fazia mais nada sozinha, nem saía da cama. As pernas incharam muito, apareceram feridas pelo corpo, os órgãos foram parando de funcionar. Dia 22 - dia em que o Gabriel completou 6 meses de vida - minha mãe morreu. E exatamente como eu prometi pra ela, eu fiquei lá, até o último segundo, segurando a mão dela enquanto ela se ia. Ela se foi tranquilamente, sem sentir dor. A respiração foi diminuindo, diminuindo, até cessar. Eu segurei aquela mão gelada, já quase sem vida, e não podia deixar de pensar que ainda tinha tanta coisa pra ser dita, tana coisa pra ser vivida!!! Era como se ela estivesse caindo num abismo e eu não conseguisse mais agarrá-la.

Minha mãe faleceu num dia 22, num hospital, usando fralda e uma pulseirinha de identificação com o nome dela e da mãe dela. Exatamente como meu filhote Gabriel, quando nasceu.

5 comentários:

Michelle disse...

Dé...
Meus mais profundos sentimentos pela sua perda. Sei o quanto é difícil perder um ente tão querido e imagino o que você está passando, mas sei também que você é forte o bastante para superar tudo isso com muita garra tendo ao seu lado o seu presente mais precioso de Natal, o Gabriel.
É difícil desejar Feliz Natal nessas horas, mas desejo do fundo do meu coração um Ano Novo cheio de alegrias e novas descobertas do Biel, são elas que vão te dar um bom gás para superar tudo isso.
No mais conte comigo !!!
Bjaum!!!

Dos Santos disse...

Mais que dizer, e viver, tem muita coisa para sentir.

Mas vai vir tudo com seu tempo. Sem pressas. Quando vc mandou o e-mail falando no falecimento de sua mãe eu em dei conta disso, que ela faleceu no mesmo dia que o Gabriel completou 6 meses.
Lembra que ele é o melhor presente que vc poderia dar a ela? POde parecer clichê, mas lembre-se disso e cuide dele como se fosse mais uma lembrança dela que ela pediu com carinho para você cuidar.

GOSTO MUITO viu? TÔ JUNTO.

beijocas

Raffu disse...

Seu primeiro natal como mãe.. realmente cheio de emoções muito fortes.
Não sei nem o que te dizer e nem quero dizer palavras piegas de conforto porque sinceramente pra mim elas não ajudam em nada.. só machucam e mostram o quanto somos impotentes nesse mundo.

Só posso lhe desejar muita força e amor proprio. Sua mãe lhe encarregou de uma grande tarefa... trilhar o caminho do seu irmão. Tenho certeza que ela viu que você seria a mais forte para aguentar e segurar as pontas.

Tenho certeza que agora a estrela do gabriel brilhara muito mais forte... ele tem um "anjinho" muito especial zelando por ele.

Que seu final de ano seja muito unido com quem você REALMENTE AMA... para olhar para frente e sorrir lembrando da grande mulher que sua mãe foi!

Lorena Lara disse...

Poxa, sinto muito, muito mesmo, Dé.
Como a Rafa, não vou tentar amenizar sua dor com palavras. Queria mesmo é te dar um grande abraço apertado...

Sua mãe está aí, em vc. Shakespeare já dizia que temos mais dos nossos pais do que gostaríamos. É verdade. E nada, nem ninguém tirará ela daí.

Bjos, tenha um 2009 abençoado!

**FERNANDO a bordo** disse...

Se vc pudesse sentir nesse momento o abraço q estou lhe dando....sinto muito pela sua mãe...mas ela está num lugar muito melhor q aki..com certeza e sempre olhando por vc e gabriel. É estranho a lei da vida né...gente nascendo, gente indo embora..mas enfim...com certeza ela deixou inumeras coisas boas à vc,lembranças,ensinamentos, agora o q vc terá q aprender a conviver é com a bendita saudade. Pq saudade nós sentimos de pessoas boas q nos fizeram bem. Sinta-se orgulhosa por ter tido uma mãe ao seu lado, e por ela ter conhecido seu anjo gabriel...
fiquem com deus
:)